Pequenos extratores de madeira da
região do Baixo Amazonas cobram do Poder Público, agilidade na legalização de
terras e liberação de projetos de manejo simplificado para sair da ilegalidade.
Eles denunciam que agentes do governo estariam monopolizando venda de madeira
na região e cobram providências para o caso. Jaime Souza Soares, 52, morador da
comunidade São Tomé de Mocambo do Arari, junto com 70 famílias espera a
liberação de 70 projetos de manejo florestal simplificado, mas, a falta de
agilidade do secretariado e funcionários governamentais é grande e prejudica a
aprovação de projetos. “Se cada diretor e funcionário do Iteam, Ipaam, Ibama e
idam deixassem o arcondicionado e realizassem suas funções, seria diferente,
porém, mais de 90% da madeira utilizada
em Parintins é ilegal. Isso é ruim para o governo que não arrecada impostos e
para o pessoal que tenta legalização. Só é bom para quem vive da ilegalidade”,
afirma.
Jaime
Souza é morador do Mocambo do Arari
O interiorano assegura que técnicos
se prontificam, mas não conseguem realizar os trabalhos. “A empresa Andrade
Gutierrez, durante a obra do Linhão de Tucuruí destruiu a estrada e nem as
máquinas conseguiram chegar ao local. Se os projetos de manejos forem aprovados
e houver organização e consciência dos extrativistas no aproveito das riquezas
disponíveis na área, o local tem potencial para uma renda de quase 9 milhões
por ano, sem destruir a natureza”, lamenta.
Trabalho e dignidade
Salomão dos Santos luta
para que o povo trabalhe com dignidade
Salomão dos Santos, 41, luta para que
o povo da região do Mocambo trabalhe com dignidade sem precisar se esconder dos
órgãos ambientais. “Conheço o dia, dia de quem trabalha ilegal, desde os 15
anos acompanhava meu pai tirando madeira clandestina por que não tínhamos
alternativa de renda, hoje luto para mudar isso”.
Salomão pede ajuda dos colegas na
luta pela legalização das terras e dos projetos e acredita que se os governos
estadual e federal fizessem com que as instituições funcionassem, os projetos
de manejos já estariam liberados. “Sei que o trabalhador não gosta de ficar se
escondendo. Muitos fazem por necessidade. Isso eliminaria os atravessadores, os
preços dos produtos melhorariam, os lucros poderíamos investir e fortalecer a
agricultura na área, e teríamos uma vida digna”.
Ele confessa que não aguenta ver o
abandono da agricultura familiar em Parintins, e no interior quem não produz
algo, não tem perspectiva de ganho. “O poder público municipal, estadual e
federal abandonaram o interior, por isso, muitos trabalham ilegal, afinal, é
preciso sobreviver. A prova da inabilidade governamental é que estamos há 4
anos esperando a liberação dos projeto de manejo florestal e somente 2 foram
liberados”, reclama.
Luta
Cidadão de Boa Vista do Ramos luta
pela legalização
Um cidadão que não quis se
identificar trabalha na região de Boa Vista do Ramos, e ao longo dos anos junto
com colegas, luta pela legalização de projetos de manejo florestal naquele
município. “Infelizmente lá muita gente trabalha na ilegalidade, e para piorar,
o técnico florestal, o Trindade, monopoliza a compra e venda da madeira legal e
ilegal na região”.
Ele argumenta que a atitude do
funcionário é uma derrota para os trabalhadores “Pega contrato com madeireiros
e empresários para retirar madeira ilegal e vender em Boa Vista e Maués.
Queremos que a situação chegue a conhecimento do gerente geral do Idam do
Amazonas”.
De acordo com ele, para que casos
como esses não aconteçam, o governo estadual deveria organizar seminários e
oficinas que envolvessem agentes dos órgãos e trabalhadores rurais. “Durante os
debates todos colocariam as dificuldades e as situações vividas. Em Boa Vista do
Ramos, na parte florestal, o Trindade toma conta e manda em tudo, inclusive na
Associação Caf, criada por um pessoal de lá mesmo e tudo que os sócios
conseguiram, é ele quem manda”, garante.
Intermediação
Boa Vista do Ramos é a região que mais
se trabalha com madeira ilegal diz um funcionário
Trindade que atua em Boa Vista do
Ramos desde 2003, negou as acusações contra ele e admitiu que medeia negociação
entre empresários e pequenos extratores e realiza projetos comunitários no
município. “Na região é onde mais se trabalha com madeira ilegal. Desde que
cheguei em Boa Vista, comecei a pregar a legalização dos pequenos extratores e
hoje faço projetos de manejo simplificado. Jamais trabalharia de outra maneira
estando em uma instituição como o Idam. Meu trabalho gerou desconfiança nas
pessoas que trabalhavam ilegais”.
O profissional comenta que pregou
passo a passo sobre madeira legal e tentou acabar com a prática nas
comunidades. “O cara com R$50 comprava uma árvore, ou trocava por comida,
mudamos isso através de cursos e temos em Boa Vista 55 planos de manejos”.
O técnico reclama que o Ibama de
Parintins, nunca fiscalizou naquela cidade, o que ajuda para ilegalidade e que
madeireiros da Ilha levam propostas de comprar madeira ilegal. “Acompanhamos os
pequenos extratores para que a venda seja feita legalmente, isso causa ciúme
nos viciados em vender madeira ilegal. Se os órgãos fiscalizadores atuassem, eu não estaria sendo denunciado
por fazer meu trabalho. Desde que comecei a pregar o plano de manejo e a
legalização, incomodou muita gente e alguém hoje tenta me prejudicar, mais não
vou parar com meu trabalho”, finaliza.
Ataíde Tenório
Nenhum comentário:
Postar um comentário