sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Setor Primário em Parintins abandonado há mais de 40 anos, diz agricultor





            Cachos de banana eram exportados em grande quantidade nos anos 60, diz agricultor

O agricultor Sérgio da Silva Muniz, 57, morador da comunidade Nossa Senhora de Nazaré, região do Zé Açu, procurou a reportagem do Gazeta Parintins para que sua reclamação chegue a público. Segundo ele, há mais de quarenta anos o Setor Primário em Parintins está abandonado pelo poder público o que gerou o êxodo rural no município, teria empobrecido a população e originado muitas mazelas na cidade. Sérgio revela ainda que sempre lutou pela melhoria do setor primário e afirma que mesmo após ter sofrido ameaças de morte, permanece no interior e luta para mudar a realidade que vive o setor no município.
O agricultor enfatiza que, quando o poder público investia no Setor Primário em Parintins, a produção de banana, feijão, milho, arroz, maracujá, cacau, castanha, juta, malva e outros produtos gerava riqueza na cidade. “Os governos e os prefeitos investiam no setor e havia máquinas beneficiadoras de arroz, castanha e milho, mas nos últimos 40 anos foram eleitos governantes que esqueceram o interior, e com a falta de investimento no setor houve o êxodo rural. Assim como eu, várias pessoas permaneceram na zona rural, pois entendemos que o interior é a base de sustentação da cidade. Se houver fortalecimento da agricultura, a economia do município vai aquecer e o povo vai voltar a ter dinheiro para viver bem”, aposta ele.

Luta

 
     Sérgio Muniz afirma que desde jovem luta pelo fortalecimento da agricultura no município

Muniz revela também que desde jovem luta pela volta do fortalecimento da agricultura no município, e que durante as lutas pelo ideal sofre consequências. “Sei que vai aparecer um governador ou um prefeito que vai perceber que o fortalecimento da agricultura pode mudar a realidade de pobreza que hoje vive Parintins. Com a mudança que acredito que está ocorrendo, vai aparecer um político sério que vai apostar no setor primário e o município será novamente um grande produtor agrícola”, acrescenta.
O agricultor lembra que no fim dos anos 60, os interioranos do município produziam e exportavam vários produtos agrícolas em grande quantidade. “Em 1968 na terra firme da região, produzíamos muito arroz, banana, milho, mandioca, macaxeira e até guaraná, as várzeas eram cheias de juta, malva, cacau e também jerimum, maxixe e melancia. Cansei de ver os garotos na época vendendo produtos e fazendo compras nos comércios. Agora pergunto: o que houve? Será que a ambição dos homens da política é maior que o desejo de ver o povo passar bem? Ou a corrupção tomou conta de seus corações?”

Falta de investimento

O interiorano afirma que devido a falta de investimento, o homem do interior se sente desprezado e migra para cidade achando que terá uma vida melhor, mas sem estudo e com muitos filhos acaba vivendo as margens da sociedade. “O interiorano vem para a cidade e deixa de ser um bom agricultor e passa a ser um pobre a mais na cidade. Ao invés de gerador de produtos agrícolas passa a ser consumidor. Com isso vai gerando miséria e as autoridades sabem disso, mas não fazem nada para mudar e a pobreza avança na cidade e no interior”.
Sérgio lamenta que mesmo vivendo no Amazonas, um Estado banhado pelo maior rio do mundo, não existe no município uma agricultura forte. “Vivemos praticamente as margens do maior rio do planeta, uma região rica em água e não temos se quer um metro de agricultura irrigada. Há muito tempo cobro do governo federal através do Incra, dos órgãos do governo do estado e entidades voltados a assistência técnica do setor primário, mas ninguém responde ou faz alguma coisa. Nós temos terra, mas é preciso fazer a correção do solo para receber os plantios. Infelizmente estamos longe de sermos assistidos”.
Tristeza

Silva relata que ao procurar os órgãos de assistência técnica em busca de informações adequadas, fica entristecido quando não as encontra. “Quando buscamos o Idam, Cootempa e mesmo a Secretaria Municipal de Abastecimento e Desenvolvimento Econômico (Sempad) a respeito de assistência técnica, mecanização e insumos agrícolas, só ouvimos mentiras. Isso nos leva a crer que o Estado e o município a cada dia ficam a quilômetros dos agricultores. Tenho saudade quando os bancos tinham dinheiro para os agricultores, hoje qualquer produtor que vai aos bancos só encontra burocracia”.

Sempad

 
      Samaroni afirma  que foi procurado pelo agricultor para tratar sobre mecanização
        
Procuramos o titular da Secretaria Municipal de Abastecimento e Desenvolvimento Econômico (Sempad) o químico Samaroni da Silva Moura que confirmou ser procurado pelo agricultor para tratar sobre mecanização agrícola e aquisição de insumo. “Dissemos a ele que existe por parte do município um plano organizacional em relação aos serviços de mecanização em terrenos na sede e no interior. O terreno dele e de outros produtores na área do Zé Açú serão inseridos nesse cronograma de trabalho”, garantiu Samaroni.
Moura aproveita e pede aos produtores que procurem os órgãos competentes para que sejam comtemplados com a mecanização e os alerta sobre as dificuldades para fazer o trabalho. “A maior dificuldade para realizar a mecanização dos lotes é destocar a área que receberá a semente. Esse trabalho de destocamento só é feito com trator de esteira, a partir daí é nivelado, arado, feito a correção do solo e posteriormente recebe o plantio”.

Mecanização

Segundo o titular da pasta, o trabalho de preparo do solo é feito pela prefeitura, através da Sempad em parceria com o Ifam e Embrapa, mas a aquisição do calcário e as sementes são por conta dos agricultores. O secretário revela ainda que este ano, o município vai abraçar o desafio do funcionamento do banco de sementes. “Parintins precisa urgentemente de um banco de sementes para suprir a necessidade dos agricultores local. Outro objetivo é quanto aquisição do calcário que hoje geralmente é adquirido de forma particular”.
Quanto às áreas a serem mecanizadas, o secretário revela que cada hectare é feita geralmente em três horas com a grade niveladora e a aplicação do calcário, mas se tiver de destocar o terreno, um hectare pode ser feito em dois ou três dias. “Garantimos que logo o município terá uma produção agrícola forte. Para isso precisamos incentivar a policultura, fazer a diversificação de plantios. O interiorano precisa deixar de plantar só mandioca e apostar em outros produtos como banana, cenoura, batata, tomate, milho, batata, melancia, jerimum, maxixe e repolho que já existe aqui uma unidade demonstrativa”, finaliza Samaroni.

Por Ataíde Tenório (ataidetenorio1@hotmail.com)

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