Tucumãs foram comprados na Feira do Produtor e oito pessoas foram
intoxicadas após ter consumido o fruto
Aproximadamente
sete meses da morte da estudante Karina Fonseca da Silva, 17, dia 26 de agosto
de 2013, quando ela e outras 19 pessoas foram hospitalizadas supostamente
intoxicadas por tucumã amadurecido com Carbureto, na noite de quinta-feira
(13), oito pessoas também foram parar nos hospitais, possivelmente intoxicadas
depois de comer tucumã possivelmente amadurecido com o produto.
As oito
pessoas que passaram mal, consumiram a fruta entre 17h e 17h30 e são moradoras
do bairro Palmares, quatro de uma família residente na rua 7 de Setembro e
quatro na rua Nhmundá. As duas famílias afirmam ter comprado o tucumã por volta
de 16h30, na Feira do Produtor, Centro da cidade. A primeira a passar mal foi
uma mulher de 30 anos que pediu para ter o nome preservado, mas afirmou que
após a merenda da tarde ela, o irmão de 26 anos, a mãe de 65 e um sobrinho de
apenas 5 anos de idade foram hospitalizados. “Escapamos de morrer intoxicados
após comer tucumã. Merendamos por volta de 17h30 e às 20h estava no Hospital
Padre Colombo (HPC) com muito vômito, dores abdominais, tontura, diarreia e sem
conseguir respirar. O pior é que mesmo passando mal o médico demorou a me
atender”, afirmou.
Segundo a
cidadã, ela pediu exames para detectar a razão do problema, mas não foi
atendida. “Percebi que corria risco de morte se permanecesse no HPC, devido
tanta demora, e pelo médico ter apenas me olhado e receitar remédio sem se quer
me examinar ou pedir exame laboratorial. Resolvi seguir para o Hospital Jofre
Cohen (HJC) onde foi ainda pior e pensei ir pra casa duas vezes. É muita falta
de respeito de alguns profissionais de saúde, ficam batendo papo e não dão a
mínima atenção pra gente”, reclama a mulher.
Atendimento
Regiane
Alfaia, 29, assistente administrativo, afirmou que dos familiares, ela foi quem
mais sofreu com a intoxicação, assegurou que foi bem atendida no hospital Jofre
Cohen, mas reclama que os atendentes assim como os médicos deixaram a desejar
profissionalmente. Para ela, além de requisitar exames, os profissionais
deveriam ter feito lavagem estomacal nela e nas outras pessoas que deram
entrada naquela unidade de saúde com suspeita de intoxicação.
“Assim que
dei entrada no Jofre Cohen por volta de 23h, comuniquei que havia ingerido
tucumã provavelmente manipulado com algum material tóxico, ou outra coisa. Ao
ficarem cientes, os profissionais de saúde deveriam ter feito em mim, e nos outros
pacientes com o mesmo problema, uma lavagem estomacal para retirar o material
acumulado no estômago. Eles estudaram, e pelo menos penso que sabem das
consequências que esse tipo de produto causa nas pessoas. Infelizmente, assim
como eu, as outras pessoas apenas receberam medicação”, enfatiza Alfaia.
Para as
autoridades responsáveis em fiscalizar a procedência e o estado de conservação
de produtos comercializados nas feiras e mercados em Parintins, Regiane faz um
apelo. “Que a direção dos órgãos competentes em fiscalizar a procedência não só
de tucumãs, mas de outros produtos comercializados na cidade, saibam as formas
de manipulação das frutas, principalmente nos produtos que nós amazonenses
costumamos comer para evitar que aconteça o que vem ocorrendo em Parintins”.
Inoperância
A vítima
reclama ainda, da falta de comunicação entre os órgãos que deveriam fiscalizar
e garantir a segurança alimentar dos parintinenses. “O pessoal da Vigilância
Sanitária diz que a fiscalização desse tipo de coisa não é competência deles e
sim da Sempad. Eles deveriam atuar juntos para garantir que pessoas não venham
ser intoxicadas, ao consumir um produto, ou morrer vitimadas pela
irresponsabilidade de alguém que os manuseia. As pessoas que estão atuando
nesses órgãos recebem por isso, então que façam jus aos salários que recebem e
atuem”.
Ao lembrar
a morte de Karina Silva, a cidadã pede consciência às autoridades para que
comecem a fazer algo a fim de evitar que outros casos de intoxicação e morte
aconteçam em Parintins. “Os vendedores de tucumã precisam e têm o direito de
trabalhar e ganhar o pão de cada dia, mas que façam com responsabilidade. Não
sei quem comete erros, se o vendedor ou quem tira os frutos das árvores, o
certo que além de ganhar dinheiro eles precisam zelar pela vida dos
consumidores e produtos”.
Vigilância
Sanitária
Na manhã de
sexta-feira (14), nossa reportagem conversou com a coordenadora de Vigilância
Sanitária, a enfermeira Juliana Castro, durante inspeção em uma casa na rua 7
de Setembro. Ela não gravou entrevista, mas adiantou que ao saber dos casos,
junto com uma equipe de agentes de endemias foi as residências das vítimas
averiguar a situação e coletaram amostras de tucumã que foram enviadas para o
Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Manaus. O Secretário Municipal
de Abastecimento e Desenvolvimento Econômico de Parintins, o químico Samaroni
da Silva Moura, informou que não havia sido comunicado do fato, e ao tomar
conhecimento, tomaria as providências. Na manhã de segunda-feira (17) as
vítimas voltaram a ligar para a redação e alertaram que nada havia sido feito
por parte dos órgãos competentes, além disso, informaram que uma terceira
família também teria sido intoxicada por tucumãs comprados no mesmo local.
Nossa equipe não conseguiu comprovar o fato e ainda procurou a direção dos
hospitais, mas só conseguiu falar com o diretor do HJC, médico Oswaldo
Ferreira. Ele garantiu que vai esperar a formalização das denúncias para tomar
as providências se houve ou não falhas no atendimento.
Ataíde Tenório (ataidetenorio1@hotmail.com)