quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Parintins não está diferente das grandes capitais brasileiras com a presença de moradores de rua, entre eles deficientes físicos e mentais


   
Pesquisa realizada em 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social sobre a população que vive nas ruas foi constatado que 35,5% é motivado pelo  consumo de álcool e droga

Não distante da realidade dos grandes centros urbanos, Parintins vive um problema encontrado nas capitais brasileiras. Pessoas sem moradia vivem nas ruas, pedintes/mendigos, socialmente excluídos, entregues a própria sorte. Muitos vindos de outros Estados não conseguem retornar por alguma circunstância, encontram nas ruas o que restou para quem não tem mais opção.
A reportagem do Gazeta Parintins presenciou casos reais de pessoas que vivem essa situação e se deparou com uma realidade triste para qual muitos fecham os olhos. Há casos de moradores de ruas cadeirantes, sem assistência, na esperança de um milagre para sair de tal condição.
Através de pesquisa realizada em 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social sobre a população que vive dessa forma, foi constatado que 35,5% vai para as ruas devido ao alcoolismo e as drogas: 30% desempregados, 29%conflitosna família. Desses, 71% trabalham e 16% dependem da mendicância para sobreviver.
De acordo com a pesquisa os desprovidos de família, emprego, residência e bens materiais passam a ser vistos como não cidadãos. Quando se explicita o que leva um sujeito a morar na rua, se nota contradições de uma cultura de negação de padrões, sejam eles políticos econômicos ou sociais.
O Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotado em 10 dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, contém este texto sobre habitação e qualidade de vida: “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a saúde e o bem-estar próprio e de sua família, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança social em caso de desemprego, na doença, invalidez, viuvez, velhice ou falta de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle”.



  Realidade

“Temos que encarar a realidade do dia a dia, as pessoas pensam que a gente está assim porque quer, muitas vezes não.Para ocadeirante, morador de rua que não tem parente nem derente como eu fica difícil.A gente vai levando a vida não como Deus quer, mas como a natureza pede, não se pode abaixar a cabeça e entristecer, devemos olhar pra frente, pra si mesmo”, relata o morador de rua Daniel Caetano de Souza, 53.
Daniel é natural da Ilha do Bananal, (Tocantins), deixou a terra natal ainda jovem na esperança de um futuro melhor, mas infelizmente o destino foi cruel. Há cinco anos fraturou o fêmurem um acidente, com isso ficou difícil trabalhar, passou a ser cadeirante, sem família, moradia ou alguém para dar auxílio, vive a perambular pelas ruas na cadeira de rodas pelo centro da cidade e consegue semanter vivo com esmola dada pelas pessoas. De vez em quando anda acompanhado de outro cadeirante, também morador de rua, conhecido como Pai Maués que não tem parte das duas pernas
O morador de rua declara que não conheceu o pai nem a mãe, foi criado por estranhos, ganhou a cadeira de rodas de uma doação, mas está danificada. Ele veio a Parintins com um grupo de bolivianos que prometeram que o levariam de volta a terra dele. “Quando chegamos aqui na terra do boi percebi que não estava em boas mãos, trouxeram e me jogaram como se fosse um bode no chiqueiro”, conta.
O dia a dia para um morador de rua não é fácil, relata Daniel, e quando tem alguma deficiência a situação é ainda pior. “Tomo banho a noite numa pequena torneira que tem na praça da antiga prefeitura, pois não tem como tomar banho no rio, para mim é complicado não tenho como descer, dá para tomar banho na torneira, mas só à noite de calção”, comenta.


   Apelo

Daniel faz um apelo aos novos administradores de Parintins e pede um local para se acomodar e fazer atividades que ainda são possíveis realizar. “Peço que o novo prefeito olhe por nós, consiga um local pra gente se manter, um centro de recuperação onde possamos plantar, fazer artesanato, se locomover, não adianta levar para o abrigo pra pessoa ficar trancada lá. Peço a elede todo coração, a Secretária, para arrumar uma área pra levar essas pessoas desamparadas, porque muitos vivem na peleja.Se fizesse isso creio que acabaria um pouco da bandidagem na cidade, tem muita área desocupada que dá para aproveitar, poderia ajudar”, apela Daniel.
Ele revela que a questão da acessibilidade é outro problema em Parintins,e ressalta que muitos dos colegas que vivem na rua têm residência na cidade. “Você quer ir para dentro do rio na orla, mas não atravessa porque não tem a rampa, esse é mais um obstáculo que encaramos, infelizmente,acho que muitos por algum atrito no lar estão nas ruas”.
O morador de rua ressalta que está sujeito a violência, por pessoa que tem prazer em fazer maldade. “Dois colegas meus foram esfaqueados recentemente. A pessoa que vive na rua não tem sossego nem de dia, nem a noite”, argumenta.
Procurada pela equipe a nova subsecretaria Vanessa Aguiar da Secretaria de Assistência Social e Trabalho (Semast) para sabersobre o assunto, elainformou que acabou de assumir a pasta, mas, estárealizando visitas aos centros de referências e assistência social (Cras), Conselho Tutelar e Casa de Passagem Vovó Conceição, e assegura que em breve a nova gestão vai se empenhar para resolver ou amenizar o problema.


Vivendo de sucata

Outro cidadão morador de rua em Parintins é Sebastião dos Santos, 52, natural de Óbidos (PA) ehá 10 anos vive nas ruas da cidade. “Trabalhava num barco de pesca quando aqui fiquei e não consegui mais retornar. Tenho família, meus parentes estão todos em óbidos. A situação de um morador de rua não é fácil, precisa ser feito algo por nós para sairmos dessa situação, muitos estão por vícios, outras coisas, mas nem todos porque quer, a realidade é triste”, declara.
Sebastião ajunta sucata todos os dias para vender e ganha em média R$ 4,50 por dia. “Com o dinheiro compro a minha alimentação, só dá pra isso. Tenho dois filhos adultos em Óbidos, eles já sabem que eu estou nessa situação, mas também não têm dinheiro para me tirar daqui, um abrigo iria melhorar muito pra gente”, diz entristecido.


   Relatório

Conforme o relatório do primeiro Encontro Nacional Sobre População em Situação de Rua,realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome por meio da Secretaria Nacional de Assistência Social, a populaçãoficoucaracterizada como: grupopopulacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelido a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente.
Com isso, o surgimento da população em situação de rua é um dos reflexos da exclusão social, que a cada dia atinge e prejudica uma quantidade maior de pessoas que não se enquadram no atual modelo econômico, o qual exige do trabalhador uma qualificação profissional, embora esta seja inacessível à maioria da população.
Segundo o relatório, a cada ano, mais indivíduos utilizam as ruas como moradia, fato desencadeado em decorrência de vários fatores: ausência de vínculos familiares, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas, doença mental, entre outros fatores.


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